sábado, 14 de fevereiro de 2009

Portunhol


Devido à semelhança entre a língua portuguesa e a espanhola derivada do fato de possuírem como língua materna o latim, é muito comum às pessoas que dominam uma dessas línguas sentirem-se confortáveis para falar à outra imaginando que basta trocar uma palavra de português para a sua correspondente em espanhol ou vice-versa, sem levar em conta a gramática e a concordância.
Vejamos este artigo de GIOVANNY GEROLLA - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Portunhol atrapalha crescimento na empresa
Palestras e conversas com colegas afinam vocabulário profissional

A origem é latina e os espanhóis estão logo ali, ao lado dos portugueses. Isso, porém, não significa poder dar um jeitinho.
Quem adota o portunhol pode perder negócios na segunda língua mais importante para o currículo depois do inglês.
Foi para evitar essa armadilha que Agner Marsili, 34, gerente de desenvolvimento de novos negócios da Cushman & Wakefield, decidiu dedicar duas horas semanais à aula particular de espanhol, com meia hora diária de estudo em casa.
"A evolução é rápida, o curso foca gramática aplicada a textos de interesse profissional. Mas a gramática é tão complexa quanto a nossa", conta.
"Podemos até entender 80% do que se fala, já que conjugações e bases léxica e sintática são semelhantes, mas isso não garante habilidade de expressão oral e escrita", alerta Fernanda Rodrigues, professora do Centro de Línguas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
É justamente a semelhança que pode atrapalhar o aprendizado de quem acha que logo dominará o idioma. Segundo Rodrigues, pesquisas da Universidade de Buenos Aires mostram que um brasileiro chega ao primeiro nível de intermediário mais rapidamente que um alemão, mas os germânicos chegam ao avançado com menos horas de aulas do que nós.
"O brasileiro acha que é fácil e que se comunica bem porque entende e sabe tudo", critica.
Segundo especialistas, o curso não precisa necessariamente ser focado em negócios. "São um pouco fictícios", diz Marcos da Silva, presidente da Apeesp (Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo). Ele sugere aulas particulares se houver urgência de aprender para uso comercial.
"Não vemos necessidade do curso de negócios. Esse vocabulário, em espanhol, é vivenciado em palestras, conversas com diretoria e expatriados e troca de mensagens", diz Taissa Marioti, analista de RH da Repsol YPF Brasil, onde se usa o espanhol no cotidiano.

É importante ressaltar a dificuldade de se classificar o chamado "portunhol" como uma "língua", visto que ele não apresenta uma constância de regras e termos, podendo variar de acordo com cada falante. No caso do espanhol e português, é certamente uma maneira de se falar.

Encontramos alguns exemplos engraçados de falar de brasileiros que se esforçam por falar de forma compreensível, como por exemplo:

"Yo me acuerdo a las 7" en vez de "Me despierto a las 7"
"Hasta", querendo traduzir "Até" como despedida. O certo é Hasta luego.
"Lo carro", em vez de "el coche" ou "el carro".

Outro fato interessante desta "língua" (ou forma de comunicação) é um desafio enfrentado nas cidades fronteiriças entre os países lusófonos e hispânicos, notadamente na tríplice fronteira (entre Argentina, Brasil e Paraguai) e ao sul do Estado do Rio Grande do Sul e ao norte do Uruguai. Nessas regiões, chegou-se ao consenso de que tornou-se necessário o ensino formal das duas línguas de forma concomitante, e as crianças começassem a se afastar desta norma "híbrida".